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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto e biografia: https://www.google.com/

 

SABELA DE TEZANOS

(  URUGUAI  )

 

 

Nasci em Montevidéu no dia 21 de fevereiro, aniversário do meu pai. Algum tempo depois, uma de minhas irmãs também nasceu no mesmo dia. Essa coincidência selou nossas celebrações. Festas de verão, carnaval e festas no jardim com redes e serpentinas, filmes e convites com nossos nomes eram distribuídos com dedicatória paternal nas casas de nossos amigos. 
Morávamos em uma casa grande em Cordón, na antiga rua Carapé, hoje Ana Monterroso de Lavalleja. Depois moramos durante anos em outra casa em Charrúa, perto do Parque Rodó, semelhante à primeira, mas sem o frondoso jardim ao fundo. 
Recebo o nome da minha bisavó paterna (apelido galego de Isabel, como soube anos depois numa conversa com María Esther Gilio). Minha mãe me contou que se apaixonou pelo nome que me deu – que, ela sabia, era de um romance espanhol – depois de conhecer meu pai.
Escrevo desde que me lembro. Mamãe morreu quando eu tinha 8 anos, mas antes ela me abraçou por causa de uma redação que, sem eu saber, havia sido publicada na contracapa de um jornal da escola quando eu estava no segundo ano. Ela, de repente, estava na porta da minha sala naquela manhã na hora do recreio, só para me abraçar pela notícia que não me lembro quem havia lhe dado. 
Papai era professor de diversas – senão todas – matérias do ensino médio, tinha uma academia em casa, desenhava e escrevia. Eu estava sempre lendo. Ele adorava música, futebol, cinema. Ele desenvolveu uma longa doença emocional após a morte de minha mãe. Ela cantava e tinha um livro de poesias de Alfonsina Storni, que guardo com sua assinatura, recuperado e encadernado muitos anos depois por um dos grandes amores da minha vida.
Os poemas surgiram quando eu era adolescente, com a escrita constante dos meus diários. Me apaixonei seriamente então e sofri intensamente nesse longo tempo de construção, descoberta, aceitação e abandono. 
É difícil ser poeta, é difícil não sê-lo quando se abre aquele canal ou se desperta aquele registo único, singular. No final da década de 80 – trabalhava na rádio selecionando música, tinha mais de um emprego, pretendia avançar nos estudos de filosofia e meu pai havia falecido – entrei no concurso anual de literatura do MEC e ganhei um prêmio com o livro Palavras sem nome (Ed. Sinais). Em 1991 obtive o mesmo prêmio por Los desrendimientos (Vintén). Depois publiquei Jugar con fuego (Imaginarias, 1995). Em 2000 foi premiado o Livro de Alice , que escreveu num inverno anterior e permanece inédito, e em 2004 foi reconhecido Pliegues en el Silencio (Artefato). 
Ao longo dos anos publiquei em diversas antologias no Uruguai e no exterior, e na imprensa escrita, vários textos de prosa e poesia nunca reunidos: Crônicas Recorrentes , Frio Circular, Janeiro, Fim do Começo , Gratuidade , Não Resolvido , Uma Prova , Palavras e paixões por um ponto de fuga , entre outros. Certa vez, na rua, num ponto de ônibus do centro da cidade, foi exposto por um tempo um poema meu, selecionado por ter participado do evento zonapoema.
Levei mais um tempo para considerar que tinha um novo livro. Fui mãe e terminei meus estudos entre 1999 e 2003, e além de começar a lecionar, me dediquei a promover eventos culturais e ministrar oficinas de leitura e escrita (Pachamama, Casa de los Escritores, Primeiro encontro de literatura feminina uruguaia , Centro Cultural de Espanha, Sala Figari do Banco Central, Museu MAPI, Fundação Benedetti). Também ingressei por concurso como professor de filosofia na Faculdade de Psicologia da Udelar, cargo que ocupo desde 2004.
Entre 2015 e 2017 recuperei alguns poemas e pude vê-los juntos. Foi assim que chegou O Momento Infinito (Civis Analfabetos), apresentado em março de 2018 no Museu Nacional de Artes Visuais. Em 2020, esse livro ganhou o Primeiro Prêmio de Poesia Publicada do MEC.
Em 2022 terminei o mestrado em Ciências Humanas/Estudos Latino-Americanos (FHCE, Udelar), com uma tese ligada ao campo da literatura latino-americana dos anos 60.
Continuo indo e vindo, buscando e me perdendo no prazer e na dificuldade das palavras, e essa relação com a linguagem, a escrita e a literatura foi, é e será um meio essencial de plenitude recuperada de tempos em tempos na exploração que envolve o mistério aleatório da vida.

 

TEXTOS EN ESPAÑOL  -  TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

POESIA SEMPRE. Minas Gerais.  Número 5.  Ano 3    Editor Geral: Marco Lucchesi.       Rio de Janeiro: MINISTÉRIO DA CULTURA / Fundação BIBLIOTECA NACIONAL, 1995.   242 p.   

                                    Exemplar biblioteca de Antonio Miranda


Profecía autocumplida

Alcoholizado (en llamas)
atraviesa los patios de la casa
rondan los vidrios rotos en el suelo
las altas claraboyas se estremecen
andan las ratas entre sus papeles
y una gran telaraña lo rodea
el invierno se cuela y él ya sabe
que es el último invierno
pero brilla la lluvia en su cabeza
y canta a la memoria  de una muerte
una figura blanca que circunda sus pasos
y le naufraga en vasos transparentes
que lo alejan del mundo
frente a cinco miradas asombradas.


Tensión del arcoíris

¿C
ómo podía ser considerada?
Desparramando lucidez vagamente
como un suave abanico
descontrolado
como un arcoiris en despliegue
continuo
cuyo equilibrio y misterio
asombra o ensombrece.
Sin bordes, como a la luz
de lámparas cansadas,
andaba
por entre los renglones
de la lógica mayoritaria
y peligraba porque temía ser vista
como una mancha
entre los impecables espacios
de la vida sana.


TEXTOS EM PORTUGUÊS
TRADUÇÃO DE ANTONIO MIRANDA


Profecia autorealizável

Alcoolizado (em chamas)
atravessa os pátios da casa
rondeiam os vidros rotos no piso
as altas claraboias se estremecem
andam os ratos entre seus papéis
e uma grande teia de aranha o rodeia
o inverno se esgueira e ele já sabe
que é o último inverno
mas brilha a chuva em sua cabeça
e canta à memória  de uma morte
uma figura branca que circunda seus passos
e naufraga em vasos transparentes
que o afastam do mundo
diante de cinco miradas assombradas.


Tensão do arco-íris

C
omo podia ser considerada?
Dispersando lucidez vagamente
como um suave leque
descontrolado
como um arco-íris em implantação
continua
cujo equilíbrio e mistério
assombra ou ensombra.
Sem arestas, como à luz
de lâmpadas cansadas,
andava
por entre as linhas
da lógica majoritária
e corria perigo porque temia ser vista
como uma mancha
entre os impecáveis espaços
da vida sadia.

 

*
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Página publicada em agosto de 2024


 

 

 
 
 
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